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Forum Angolano de Reflexão e de Acção.

Os planaltos centrais: A génese da humanidade

 

 

Por SIMÃO SOUINDOULA

 

 

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UM PASSADO PRÉ-HISTÓRICO SIGNIFICATIVO

O atual ov’okati atestou a presença do Homo Sapiens com toda a sua bagagem lítica, os seus conhecimentos da vegecultura, a domesticação de animais e a expressão gravada parietal, aglutinando bem, naturalmente, as características do tríptico da classificação Congo/Zambeze/Sudoeste. Este “tete omanu” evolui, em entre outras linhas, em Benguela, na Baia das Vacas, na Ponta do Sombreiro, na Praia Farta, ao longo do rio Dungo, nos abrigos sob rocha
de Ebo, Luee e Djole, em Delambira, no Galanga, nos rios Cuengue e Xissoi, próximo da missão de Chipindo.

Este, que se tornou metalurgista, explorou os aluviões auríferos mungo, gravou em Caninguiri, pinturas rupestres, estabeleu-se na Ganda, em Cambambi, uma zona de inselbergs, entre as serras do Hondio e do Epale, uma oficina de fundição de ferro.

A grande referência da pré-história da” utima” e o emblemático sítio da decisiva idade de ferro, o Feti (génese), no planalto do Huambo, na confluência do Cunhangama e Cunene, a cerca de 100 km da referida cidade. A sua grande importância é revelada na sua montagem, numa inesperada pirâmide de pedra, na tenaz mitologia de tesouro, verdadeiro cofre siderúrgico, de lugar sagrado, local de ritos, fortes. Com efeito, a pluviogonia, é uma das crenças fixadas neste onele, “Montagem de Pedras para implorar a Água”.

PLUVIOGONIA

A relevância deste sítio da Iron Age reside, igualmente, no facto que é, ali, que os Ovimbundu baseiam a origem da humanidade, com o poético casal, Feti e Tchoya. Os seus descendentes edificarão, numa firme sinergia federadora, o Galangue, o Viye, o Huambo, o Sambo, o Cuima e a Caconda, nação assinalada jaga, em 1641.  É atestada em 1680, a

existência ou a formação, em curso, na primeira metade do seculo XVIII, desses espaços políticos. Os Hanha reivindicam, particularmente, a gesta do lendário casal que passou por Mbalasese, no atual Quiaca, em direção ao norte, na margem direita do rio Cuanza. Ai, eles engendram o Rei Ngola.A datação feita num dos contextos estratigráficos do reservatório deu a data, interessante, do seculo VIII da nossa era.Esse domínio da metalurgia associado ao forte
crescimento demográfico das comunidades bantu, provocou migrações estruturantes nos reconfortantes e seguros Planaltos.Haverá, ai, uma autêntica convergência pan-bantu.

Assim, admite-se, geralmente, que uma substancial parte das populações ovimbundu são descendentes de povos que fizeram a sua entrada pelo norte de Angola e que os ascendentes kongo foram os primeiros a instalarem-se nas Serranias. Estes, juntaram-se a outros vindos do nordeste, do sudoeste e do sul do atual território angolano; prova disto esta na língua umbundo, produto patente do Kikongo/Kimbundu e do lunda/luba/cokwe. Esse fim de milénio parece ser o da formação das referidas entidades políticas, cuja indiscutível ilustração, foi a construção de fortificações, reflexo típico dos marciais Jagas, que movimentavam na região no início do seculo XVII.

SOBERANIA MATRILINEAR

Vê-se, essas edificações no morro do soba Cungo, no morro da Cela, no Huambo, na Ganda e em Samissasa, Quiaca, Quivula, Andulo, Quingolo, Caluquembe, Quipete e Quitata. Visivelmente, tendo em conta a sua extensão, as fortalezas foram montadas e reforçadas, reinado apos reinado, como pareceu o indicar, o 19 Rei do Huambo, Capoco II, que governou de 1846 a 1860. Pode-se notar alguns factos sobre essas entidades politicas. Assim, a maispoderosa formação pareceu ser o Huambo, enquanto o Mbailundu era a mais extensa e populosa. Esse ultimo reino tinha a volta de 1850, uma população estimada em meio-milhão de indivíduos, repartidos em 200 circunscrições, contendo de 3 a 300 aldeias.

 

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O vigoroso Reino do Huambo tinha a sua capital, Mbola, a 7 km a norte de Caála. E, facto confirmativo das relações com o setentrião das “Altitudes”, sobretudo o Imbangala de Kasanje, um jaga conhecido como Huambo Calunga, vindo do vale do rio Queve, reinou, ai, pelo menos, em 1635 ou 1640.Os títulos políticos tais como ngolambolo ou tendala corroboram o referido relacionamento.


Uma entidade com uma governação particular foi o Ganda, dirigido, durante por algum tempo pela Rainha Caue. Os Planaltos jagaizados, sobretudo depois da sua expulsão do Reino do Kongo, em 1573, transformaram-se como a placa giratória, frenética, do tráfico caravaneiro de escravos, marfim e cera, já a partir do seculo XVIII, entre o hinterland e a costa.

AÍ OS JAGAS

A fim de parar as repetidas incursões dos ukwalomunda, tornados perigosamente expansionistas, a Colonia de Angola empreendeu uma autêntica guerra, entre 1774 e 1776, contra Mbailundo, Andulu e Bié. O conflito que revelou um equilíbrio insurreição permanente e a continuação de um tráfico humano com militar, desembocou numa aliança estratégica, de razão, eminentemente, comercial, entre a entidade portuguesa e o tríptico ovimbundu.

 

De facto, os efuli reforçaram as suas linhas de longa distancia de abastecimento se bem que e certificado, em 1795, a sua presença no território Lwena, e em 1840, na capital do Imperio Lunda e no Reino Lozi e, alguns anos depois, atingira, o vale do Kasai.O perfil dos produtos das quibucas que estava a mudar ate, pelo menos, 1880, fixou-se na opção, mais lucrativa, da borracha vermelha, que os kangundu descobriram a leste do Cuanza, em 1886. A corrida
dos kangweta para esta renda foi geral e só foi interrompida, a partir de 1890, pelos confrontos armados luso-ovimbundu, as guerras do Nano ou as guerras pretas, que alastram-se em 1896 e 1902, mas também, pela terrível fome de 1911.

Nas memórias dos Planaltos, este ano aponta o fim do negócio de longa distância, que foi, arduamente, animado pelos mambari ou quimbáre, mbali, ovimbali.O termo deste ciclo económico resultou, igualmente, da situação politica, militar e social, instável, numa extraordinária recorrência, no litoral, exutório, estratégico, de Benguela, Catumbela, Lobito, Egito, Quicombo, Novo Redondo e Benguela - a -Velha. Os ofumbelo levaram, uma luta permanente contra a consolidação e a expansão coloniais, tal como nos presídios de Hanha,  Caconda, Quilengues, nos Reinos do Dombe Grande e dos Seles.

DE SOL A SOL

Uma das causas deste estado de insurreição permanente e a continuação de um tráfico humano com as ilhas de São Tome e Príncipe e o abastecimento em mão-de-obra das plantações de algodão do litoral, resultante da forte demanda internacional deste produto, na sequência da guerra de secessão nos Estados Unidos de América.

Esses trabalhadores laboravam na qualidade de verdadeiros “omumbe” ou “neo-upika”, obrigados a labutar de “sol a sol”. Outro fator que de desagrado económico e social foi a usurpação das terras agrícolas pelos colonos. As últimas lutas de resistência foram tenazes no coração dos  Planaltos, alastrando-se entre 1890 e 1904. Vários ependa vão
destacar-se na defesa da soberania dos territórios tais como Cikunyu (1888 1890) que bem se auto-intitulou Ndunduma, “a Faisca”, Numa II (1895 – 1896), Samba Iolundungo, o famoso Samacaca “O Feiticeiro” (1902 – 1904), que notabilizou-se nas ataques das caravanas, ao longo do rio Cuvo e, no ano de todas as resistências, 1902, Mutu ya Kevela , Libongue, Tchibaba e Caimbuca. O conjunto dos Estados do centro perderá a sua independência e será submetido à ordem colonial moderna, com as suas exigências políticas, os seus alinhamentos económicos e as suas imposições sociais.

Este desenvolvimento terá como espinha dorsal o Caminho de Ferro de Benguela, cujo contrato de construção foi, justamente, assinado, em 1902. Esta sólida ligação chegara no Huambo, dez anos depois, e, em 1903, no Bié, criando, no coração de Angola, uma nova configuração planáltica que marcara a historia contemporânea do pais.

 

 

 

                                                                                                                                                                 N. J

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