Hoje completa-se 20 anos do genocídio perpetrado no 22 e 23 de Janeiro de 1993 contra as populações Bakongo em Luanda, o Blogue do Royaume do Kongo, vai render a devida homenagem às vítimas, reeditando o memerandum que a Associação dos Bakongo de Angola apresentou ao Papa João Paulo II, quando visitou a cidade de Mbanza Kongo em Junho de 1992.
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A nossa cultura foi totalmente ignorada. Ter a cultura é existir. Os akongos não devem ter a cultura - ou pelo menos à ela não se pode referir no quadro angolano - porque era suposto nã existir.
Os nossos nomes foram e são ainda qualificados de "estrangeiros", além de serem deliberadamente alterados. Nas conservatórias é preciso oras de discussões - para os teimosos - para a criança o nome kokongo. Obrigam-nos a dar à nossa progenitura nomes do batismo como nomes de família, recorrendo à uma astúcia herdada do colonialismo português.
Do mesmo, as nossas tradições são espizinhadas. Prova disso é por exempro o desconhecimento do casamento costumeiro - longo - dos akongo. Esses casamentos, quando concluidos fora de Angola, roram reconhecidos pelas autoridades civís locais. Ora na República Popular de Angola, tais casamentos são puras e simplesmentes ignorados. e aqueles que concluiram sâo considerados de solteiros, apesar dos documentos comprovativos das autoridades que celebraram esses casamentos.
Os nossos filhos choram para convecer a mãe, que vai à sua escola, de meter os panos, receando que ela desvende a sua origem "zairense". Ora os panos são trajos da gente do norte.
Este afastamento não só afectou o aspecto exterior do akongo. como o trajo, mas também um dos aspectos mais profundos do homem kongo. É o caso da língua. O kikongo é considerado em todos os meios da vida nacional como uma língua reacionária, porque falada por um povo reaccionário e estrangeiro.
Das três línguas nacionais de Angola, o kikongo é aquela que continua a ter o estatuto de língua do cão.
Toda a acção conscientemente negativa em relação aos akongos levada a cabo durante dezasseis anos pelas instâncias derigentes da República Popular de Angola produziu os efeitos nefastos que dela se esperava.
Muitas personalidades kongo do MPLA recusavam a falar a sua língua materna, por ficar no mesmo diapasão que os colegas. Os nossos filhos não gostam que lhes falam em kikongo na presença dos amigos.
Alguns adultos kongo tudo fazem para evitar o convívio dos conterráneos, sobretudo nos locais de trabalho, para esconder a sua origem kongo, como se ser kongo era uma vergonhosa praga.
Tudo indica que os descendentes do Paulo Dias de Novais não conseguiram alcançar na zona dos akongos durante 5 séculos - o genocídio cultural - outros o querem realizar em dezasseis anos.
A história do povo kongo sofre manipulação e distorção. Insiste.se demoradamente na sua origem nortenha como se as outras etnias angolanas sempre viveram cá e como se viver no norte torma os akongos menos angolanos!
Os akongos são apresentados como os que menos contribuiram pela luta contra o colonialismo português. Pelo contrário são aqueles que fizeram entrar o lobo no redil. As lutas de resistência de Mpangu a Lukeny, Mbula matadi nos séculos passados são tidos como factos menores, e o contributo de Mpudi a Nzinga contra o invasor lusitano a nível nacional é completamente esquecido. Buta wa Tulante e Mbianda a Ngunga que no início deste século opuseram-se ao colonialismo no país akongo nunca mereceram menções na memória do povo angolano.
Com efeito, quantas ruas, quantas praças, levam um nome de um monarca ou de ilustre personalidade Kongo? A sublevação que deu a origem da luta de libertação nacional contra a dominação salazista na área kongo em Março de 1961 é considerada como massacre racista, em comparação com o limpo e fraterno ç de Fevereiro de Luanda, no qual se tem mantido cuidadosamente escondido até recentemente o decisivo papel que os akongos nele jogaram. Tudo isto na vã tentativa de dar os akongos a imagem de que menos contribuiram na libertação nacional, enquanto que até o colonialismo português reconhece, contra a sua vontade, as baixas que o povo kongo lhe infligiu. Talvêz seria lembrar que entre os akongos nunca houve ambaquistas.
Continua...
Associação dos Bakongo de Angola
Mbanza Kongo, Junho de 1992