Forum Angolano de Reflexão e de Acção.
23 Novembre 2014
Oito fotografias de Ernesto Che Guevara tiradas após o seu assassinado em Outubro de 1967 por elementos do Exército boliviano foram descobertas na pequena cidade espanhola de Ricla.
As fotografias, a preto-e-branco, escondidas e esquecidas durante décadas entre os haveres de um missionário espanhol, foram reveladas ao mundo por um sobrinho do padre.
Che Guevara, médico nascido na Argentina, cujo papel na revolução comunista cubana o transformou num ícone do século XX, foi assassinado um dia depois de ter caído numa emboscada na selva da Bolívia montada pelo general daquele país preparado para isso pelos Estados Unidos.
O general Gary Prado comandava 70 homens recém-formados num campo das Forças Especiais dos EUA especialmente para capturar Che Guevara.
O seu cadáver foi apresentado, na aldeia de Vallegrande, à comunicação social. O correspondente da France Press, Marc Hutten fotografou-o a cores. As imagens, com Che deitado, de tronco nu e calças arregaçadas, rodeado por três dos seus carrascos correram mundo, como desejavam os dirigentes norte-americanos e bolivianos para que não houvesse dúvidas que o comandante estava morto. Com receio que o túmulo se transformasse em local de romagem, não anunciaram onde tinha sido enterrado.
Mas, na década de 1990 o local foi identificado por um general boliviano, Mario Vargas Salinas, como sendo uma vala comum junto a uma pista de aterragem nos arredores de Vallegrande. Em 1997, o corpo foi sepultado em Santa Clara, Cuba. As fotos reveladas agora por Imanol Arteaga mostram que não foram obtidas na mesma altura das de Marc Hutten.
O jornal “Washington Post” sugere que o corpo apresentado à comunicação foi primeiro limpo.
“Deitado numa maca de olhos abertos surge numa das fotos agora descobertas sujo de terra e sangue”, noticia a AFP.
Numa outra vê-se também o corpo desfigurado de Tamara Bunke, conhecida como Tânia the Guerrillera, a única mulher do grupo de guerrilha de Che que actuava na Bolívia. As oito fotografias a preto-e-branco eram guardadas por Luís Cuartero, missionário que na década de 1960 esteve na Bolívia e morreu em 2012.
“Lembrei-me que ele tinha fotografias de Che Guevara e a minha tia disse-me onde estavam, “numa caixa no meio de outras da Bolívia” disse Imanol Arteaga à AFP. Peritos consultados pelo sobrinho do missionário disseram que o papel no qual estão impressas as fotos já não se fabrica.
“Luís Cuartero trouxe as fotografias quando foi a Espanha para o casamento dos meus pais. em Novembro de 1967”, referiu o sobrinho, agora com 45 anos. “A minha mãe e a minha tia disseram-me que um jornalista francês lhas tinha dado”, declarou à AFP.
Mark Hutten é apontado como o autor das fotografias, pois há uma, tirada por ele em 1967, do próprio missionário na Bolívia.
Imanol Arteaga acredita que o fotógrafo francês tenha recorrido ao tio, que em breve viajava para Espanha, para o ajudar a colocar rapidamente as fotos fora da Bolívia.
Mark Hutten morreu em Março de 2012 e, salienta a AFP, nunca mais teve contactos com a família do padre.
O actual editor de fotografia da AFP para a Europa e África, Sylvain Estibal, recorda-se de Mark Hutten ter dito “que tinha mandado quatro ou cinco rolos para Paris”, mas que percebera meses depois que “apenas algumas das fotografias” tinham chegado.
Via JA